Juan Gérvas y Mercedes Pérez-Fernández.
Equipo CESCA, Madrid, España
@JuanGérvas
Tradução:
Donavan de Souza Lúcio
donavanlucio@gmail.com
Saúde
e prevenção
Poucas coisas fizeram
tanto dano com a definição de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa
que imagina a saúde como um estado completo de bem estar física, mental e
social[i],
impensável se não nos instantes que dura um orgasmo, como bem apontou Petr
Skrabanek[ii].
A OMS propõe uma saúde impossível, a saúde perfeita e completa, e, além do
mais, celebra “Da Palavra à Ação: O Desafio da Saúde para Todos”, com se
pudesse eliminar as doenças, desvalias, sofrimentos e morte da face da Terra[iii].
O dano da OMS é cravado
pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) com sua ênfase na promoção da
saúde e na prevenção das doenças[iv].
Para a OPAS a atenção primária tem por característica básica a prevenção,
quando esta passa de uma atividade ajustada ao conhecimento profundo de pessoas
e comunidades, sem outra relevância quando não é, ocasionalmente, oportuna.
Não se pode converter
a atividade preventiva em central da atenção primária, nem do sistema de saúde,
pois as atividades chave são as curativas, e o que precisamos é de um eficaz
Sistema Nacional de Doenças, como afirma Iona Heath no Reino Unido[v].
Para o sistema de
saúde, o central não é a saúde e sim a enfermidade, e a prevenção não é uma
característica básica da atenção primária. “As funções clínicas da atenção
primária não deveriam ser confundidas com atividades centradas na prevenção. A
prevenção não é uma função da atenção primária, apenas uma atividade
complementar e necessária ao cumprimento de seus fins clínicos. O “giro à
prevenção” do sistema sanitário é absurdo se não se distribuem claramente as
responsabilidades e os papeis referentes a pacientes e a populações, levando
inexoravelmente ao fracasso ao se pressupor a concepção da atenção primária
como atenção centrada na prevenção”[vi],
nas palavras de Barbara Starfield.
Contra a crença
popular, nem sempre é melhor prevenir do que remediar[vii]
e convém um olhar precavido diante das propostas preventivas, muitas vezes
baseadas na falácia de Beveridge (crer que a prevenção diminui os custos)[viii].
Ademais,
lamentavelmente, confunde-se 1/ promoção de saúde (melhora do estado de saúde
promovendo atividades várias; por exemplo, uma visão tolerante da diversidade
sexual.) com a 2/ proteção da saúde (normativa e legislação que protege e
impede o prejuízo à saúde, como por exemplo regulamentos sobre a
comercialização de alimentos) e com a 3/ prevenção em saúde (intervenções que
evitam o adoecimento, por exemplo com vacinas eficazes ou o aconselhamento
médico contra o tabagismo)[ix].
E quanto à prevenção propriamente dita, convém-se distinguir as medidas
“aditivas” (que “adicionam” intervenções, como vacinas) das medidas
“restritivas” (que reduzem efeitos, como o aconselhamento médico contra o
tabagismo) pois as primeiras podem ter maiores efeitos adversos e precisam de
maior conhecimento científico que as fundamentem[x].
A prevenção e a promoção
da saúde têm um certo papel na clínica, mas são questões centrais em políticas
gerais e, especialmente somadas à proteção da saúde, em políticas não
sanitárias[xi].
Estar saudável
Estar saudável é a
capacidade de superar os inconvenientes da vida e ser capaz de desfrutar dela.
De fato, em latim salus alude a estar
em condições de superar um obstáculo. Entretanto, a ideologia da OMS e da OPAS
ignora esta capacidade para desfrutar da vida com suas adversidades, inclusive
com as doenças e a morte.
Não há uma dicotomia
entre saúde e doença uma vez que ambos os estados se entrelaçam e cabe até uma
“má saúde de ferro”, como dizem às vezes os pacientes. A vida oferece
oportunidades de desfrute até ser possível “morrer saudavelmente” depois de um
“saudável envelhecimento” que convive com os inconvenientes lógicos do viver[xii].
O paradoxo da saúde
A ideologia peculiar
da OMS e da OPAS penetrou a sociedade mundial e criou na população um
sentimento frustrante de má saúde permanente. Ou seja, cresce a sensação de
estar doente enquanto a saúde mundial melhora extraordinariamente. Isto foi
demonstrado por Amartya Sen com dados dos Estados Unidos e de dois estados da
Índia, o mais saudável, Kerala, e o mais doente, Bihar. A sensação de estar
doente era maior quanto melhor eram os dados objetivos, como a expectativa de
vida. Ou seja, a população dos Estados Unidos declarava-se muito mais doente
que a de Bihar, o estado mais pobre e com população mais analfabeta da Índia.
Kerala, 100% alfabetizado e com excelentes indicadores de saúde, tinha uma
população que se sentia menos enferma que a dos Estados Unidos, mas muitíssimo
pior que a de Bihar[xiii].
É o “paradoxo da saúde”, a busca impossível e frustrante da saúde perfeita e
completa que a OMS e a OPAS pregam.
A obsessão pela saúde perfeita
Pelas palavras de
Iván Illich: “Nos países desenvolvidos, a obsessão pela saúde perfeita
converteu-se em um fator patogênico predominante. O sistema médico em um mundo
impregnado pelo ideal instrumental da ciência, cria incessantemente novas
necessidades de atenção médica. Mas quanto maior é a oferta de saúde, mais são
as pessoas que têm problemas, necessidade e enfermidades. Todos exigem que o
progresso ponha fim ao sofrimento dos corpos, que mantenha pelo maior tempo
possível o frescor da juventude e que prolongue a vida ao infinito. Nem
velhice, nem dor, nem morte. Esquecendo assim que está rebelião é a negação da
própria condição humana”[xiv].
Não pudemos esquecer
que os corpos encontram uma maneira de morrer, para cumprir com a Lei de Ferro
da Epidemiologia (todos os que nascem morrem). Nós médicos, quando muito,
prolongamos vidas e adicionamos qualidade a ela, mas não “salvamos vidas”, se
estamos falando cientificamente. Nas palavras de James McCormick, “curar só
significa atrasar a morte, pois não confere imortalidade. Por mais que a
ciência médica melhore, nunca erradicará nem o sofrimento, nem o medo e o fato
da morte”[xv].
Deveríamos considerar
que quem busca a saúde perfeita é um enfermo. Ou seja, em exemplos concretos,
está doente quem buscando a saúde come alimentos que não desfruta e pratica
esportes que não gosta. Estender aos sãos o negócio da saúde é um assunto
relativamente simples. E só persuadir aos sãos de que sentir-se saudável não é
o mesmo que estar saudável, pois alguém poderia estar doente e não ter se dado
conta disto. Assim, estando saudável mas com o medo metido no corpo, uma pessoa
converte-se em doente ao buscar desesperadamente a impossível saúde perfeita[xvi].
Tudo isso é ainda
mais complicado pela deturpação que converte fatores de risco em doenças.
Fator de risco
Fator de risco é uma
característica associada estatisticamente a uma doença ou lesão. Ou seja, o
fator de risco não é necessário nem suficiente para que se apresente a doença
ou lesão, pois é uma simples associação estatística.
Como analisou Félix
Miguel: “Na prática, as variáveis independentes (fatores) que se incluem no
estudo para determinar sua influência sobre as variáveis dependentes (doença)
passam a denominarem-se com frequência “fatores de risco”. Deste modo, a
imprecisão do termo permitiu sua naturalização, uma vez que, a princípio,
qualquer variável que possa predizer o valor da variável independente pode
denominar-se sem mais problemas “fator de risco”. Na compreensão comum de
profissionais e cidadãos experientes, enquanto não se demonstre o contrário, um
fator de risco é um fator causal”[xvii].
O salto de “fator de
risco” a “fator causal” leva a lógica da intervenção sobre o fator de risco,
que acaba convertido em doença sem que o seja. Assim, ainda que se difunda o
contrário, a hipertensão não é uma doença, a osteoporose não é uma doença, a
hipercolesterolemia não é uma doença etc.
A questão chave é a
mudança profunda nas causas de adoecer, que cada vez são menos claras, diretas
e simples. A causa “única” de adoecer é rara, e o habitual e a interação entre
causas biológicas, sociais e ambientais. Jacob Stengenga insistiu: “A maioria
das doenças têm uma base causal e constitutiva complexa. Em parte devido à esta
razão, a maneira como tem sido caracterizada as doenças foi se transformando de
uma perspectiva monocausal a multifatorial. Para muitas doenças, como a
insuficiência cardíaca, o diabetes tipo 2 ou os transtornos mentais, não existe
causas nem necessárias nem suficientes (fatores explicativos), mas um conjunto
de fatores que aumentam a probabilidade de que a doença se manifeste (fatores
preditivos). Se não há causas nem necessárias nem suficientes para a maioria
das doenças, então qualquer intervenção em algum dos fatores relacionados não
será nunca capaz por si só de eliminar a doença”[xviii].
O predomínio de uma
prevenção baseada nos fatores de risco destrói muitas das possibilidades da
prevenção clínica e social[xix].
Também medicaliza a resposta a muitas doenças e problemas de saúde que têm sua
melhor resposta fora do sistema de saúde já que se relacionam com as
“condições” de vida (condições, não estilos) e com os determinantes sociais.
Espiritualidade
O respeito à
experiência, à espiritualidade, à cosmovisão e às crenças dos pacientes, é
parte centra da medicina.
A espiritualidade
pode estar organizada em forma de entidade, seja uma religião como a cristã, ou
uma opção vital compartilhada com o Bhakti Yoga. A espiritualidade também pode
ser, sem mais, uma atitude pessoa que emerge diante do sofrimento e triste
própria ou alheia, ou com à mesma alegria e celebração que tanto nos
identificam como humanos!
Em medicina deve
haver um respeito delicado com a espiritualidade dos pacientes, e facilitar sua
expressão se eles o pedem. Quantos médicos já não tiveram contato com os
responsáveis das distintas religiões de seus pacientes quando em situação
terminal fazem este pedido? Quantos médicos já não estiveram de acordo com a
paz interior que relatam pacientes praticantes da meditação, do yoga, e outras
atividades similares? Quem não foi respeitoso com as crenças culturais e
espirituais que lhes são alheias, mas chaves para o paciente, sua família e
comunidade? Quantos médicos já não experimentaram as drogas das quais alguns de
seus pacientes atingem “outros” estados mentais e outra espiritualidade?
Quantos, comovidos pela morte de algum paciente, já não acenderam uma vela em
sua memória?[xx].
Medicalização da vida
“É medicalização a
forma em que se está expandindo ultimamente a medicina moderna, que agora
abarca muitos problemas que antes não eram considerados como entidades médicas”[xxi].
A medicalização transforma em doenças, por exemplo, as fases normais do ciclo
reprodutivo e vital da mulher (menstruação, gravidez, parto, menopausa), a
velhice, a morte, a infelicidade, a solidão, a calvície, a obesidade e o
isolamento por problemas sociais, assim como a pobreza e o desemprego.
A medicalização tinge
de medicina as adversidades da vida, como suspender uma prova, perder o
namorado, ou sofrer a morte de um ente querido, mas ademais é presunçosa pois
não tem a prudência de valorar benefícios contra riscos. Também é agressiva e
considera que só a medicina pode ajudar a superar estas adversidades,
menosprezando as alternativas desprofissionalizadas e ancestrais do manejo de todo
tipo de processos que vão desde o parto até a morte.
A medicalização se
impõe por meio da biometria, as definições de saúde e doença baseadas em
percentis e em cifras, em geral. Também se impõe por meio do medo, o medo de
adoecer e morrer quando não se cumprem as indicações médicas, medo que se
generaliza por meio de um higienismo social que dá qualificações morais
negativas, por exemplo, a obesidade e a promiscuidade. É o salutismo coercivo,
a “saúde persecutória”[xxii]
que finge ignorar os profundos determinantes o comportamento humano e assumir
que, por exemplo, “os fumantes são idiotas”, já que continuam fumando mesmo
sabendo do dano que o tabaco causa. Tal salutismo coercivo ignora a akrasia de
Aristóteles; quando o conhecimento e a racionalidade não definem nossas ações
nem nossos comportamentos.
A medicalização infantiliza
a população, que espera e até exige conselhos médicos para todo; por exemplo,
por onde caminhar no verão (pela sombra!), o que fazer frente a um simples
resfriado, quanto sexo é conveniente, ou que comidas são mais “saudáveis”. Os
médicos se tornam sacerdotes da nova religião da “saúde” e eles ditam o que é
certo e o que é errado.
Expropriação da saúde
A expropriação da
saúde é um processo coercivo insidioso que deixa o indivíduo sem capacidade de
autocura e sem autonomia, pois é o médico quem define tanto a doença quanto a
saúde[xxiii],
[xxiv].
Em um exemplo concreto, os pediatras expropriam a saúde das crianças de forma
que estes estão saudáveis somente depois da examinação e revisão pelo
profissional sem que valha de nada a experiência da avó, que habitualmente tem
conhecimentos suficientes para ser competente ao respeito.
Com a expropriação da
saúde se produz uma tripla iatrogenia: 1/ biológica, pelos efeitos adversos das
intervenções médicas, 2/ social, por medicar a vida, e 3/ cultural, por
destruir valores que ajudam a viver ao ensinar a conviver com os inconvenientes
da vida.
Inclusive se
expropria a morte e os médicos impõem sua ladainha tecnológica, falsamente
científica. Assim, por exemplo, diante de uma adolescente em coma por causas
não bem conhecidas, a conversação médica evita a compaixão e ternura e tudo
gira em torno da “morte cerebral” e da “doação para seguir vivendo em outros”. O
resto não importa, nem sequer o enfoque mais humano do cessar dos batimentos
cardíacos e da respiração. Tão pouco se fala do cadáver, mas do corpo.
Certamente, não se menciona “a pessoa que está morrendo” e sim “a paciente”.
Muito menos se fala de agonia, mas do “processo”. Parece até que não haverá
morte propriamente dita, seguida de decomposição. Tal adolescente não tem uma
idade concreta e não se fala acerca de ter perdido a vida na flor da idade.
Tudo é um pouco fictício, uma espécie de história que não deixa brotar nem a
dor nem outros sentimentos. Não há lugar para a expressão do luto dos
familiares e amigos, nem para os rituais ancestrais que consolam. Não se
menciona nem se fala da solidão desse corpo que pulsa, não se contempla nenhum
sentimento certo, é tudo aparência, pura palhaçada cruel, um “mumbo-jumbo” tecnológico, em expressão
inglesa de David Shewnon[xxv],[xxvi].
Ser médico
Um bom médico é um
profissional sanitário altamente qualificado que precisa de atualização
permanente e que, na prática clínica diária com restrição de tempo e recursos,
é capaz de tomar decisões rápidas e geralmente corretas em condições de grande
incerteza[xxvii].
Um bom médico é
aquele que: 1/ é capaz de realizar diagnósticos certeiros e oportunos, 2/ faz
uso prudente dos recursos preventivos, diagnósticos, terapêuticos e
reabilitadores para maximizar benefícios e minimizar danos e 3/ tem habilidade
para responder apropriadamente às necessidades de pacientes complexos em
situações reais de limitações múltiplas[xxviii].
Convém desmistificar
o “diagnóstico precoce”, que só é conveniente quando é também oportuno, e
também convém desmistificar o diagnostico em si e evitar a “tirania do
diagnóstico”, que paralisa a ação até que se chegue ao diagnóstico[xxix].
Médico especialista focal versus médico especialista em
medicina de família
O especialista focal
sabe muito de seu campo concreto, definido por idade, órgão-aparelho ou
técnica. O médico especialista em medicina de família sabe muito do frequente e
do importante e presta atenção aos pacientes do berço ao túmulo.
O especialista focal
“quer muito e tem pouco” enquanto o médico de família “tem muito e quer pouco”.[1]
O especialista focal
vê em peças o ser humano e o sofrimento; o médico de família vê o paciente
globalmente, no físico, psíquico e social.
O especialista focal
controla mal a incerteza, enquanto o médico de família nada nela como em paz na
água.
Os especialistas
focais têm 1/ baixo limiar diagnóstico (quase sempre empreende atividades
diagnósticas), 2/ uma longa jornada diagnóstica (investem muito tempo nele, com
diversos exames e alto custo), e 3/ um alto limiar terapêutico (precisam de
muita informação diagnóstica para decidirem o tratamento). Os especialistas
focais têm uma alta razão de verossimilhança positiva e grande valor preditivo
positivo de forma que costumam acertar quando dizem que alguém padece de uma
doença de sua especialidade.
Entretanto, o médico
de família tem 1/ um limiar diagnóstico muito elevado (valoram os casos mesmo
que não valha a pena empreender qualquer técnica diagnóstica), 2/ uma breve
jornada diagnóstica (investem pouco tempo e recursos no diagnóstico, pois
contam com informação “leve” que lhes permite decidir muitas vezes sem recorrer
aos dados duros dos exames e análises) e 3/ baixíssimo limiar terapêutico
(decidem com rapidez a melhor alternativa terapêutica, inclusive sem
diagnóstico, e com frequência utilizam o “esperar e ver”).
Na prática, o
especialista em medicina de família atua muitas vezes sem chegar ao
diagnóstico, com uma valoração da importância e gravidade do problema de saúde
mas sem uma “etiqueta” que denominamos diagnóstico[xxx].
Os médicos de família têm um alto valor preditivo negativo de forma que
costumam acertar quando dizem que alguém está são, que não tem doença. Assim,
os médicos de família podem manter os pacientes saudáveis, e até eles mesmos,
longes dos especialistas focais, evitando diagnósticos e tratamentos
desnecessários[xxxi].
Encaminhamento e filtro (“gatekeeping”)
O lógico é o trabalho
concatenado dos médicos, de forma que os médicos de família atendam primeiro
aos pacientes e encaminhem aos especialistas focais pertinentes aqueles poucos
pacientes que podem se beneficiar dos seus conhecimentos concretos. Se está
tudo bem organizado, o especialista focal atua com assessor e orienta ou
resolve o problema e contra-referencia o paciente ao especialista generalista,
para seu seguimento.
Ou seja, a atenção que os especialistas
focais deveriam prestar é episódica e à demanda de seus colegas médicos de
família, os quais decidirão qual especialista focal é necessário e para qual
paciente.
Longitudinalidade
A característica básica
da atenção primária é a longitudinalidade. É longitudinalidade a relação que se
estabelece ao longo prazo entre o médico geral/de família e seus pacientes. É
definida como: a) a atenção por um mesmo médico, ao longo de toda a vida, à
maioria dos problemas do paciente e b) o reconhecimento da população e dos
pacientes de uma fonte de cuidados com a qual se pode contar para o primeiro
contato e para o seguimento dos problemas[xxxii].
Os médicos de família
oferecem continuidade e longitudinalidade. Ou seja, oferecem seguimento dos
problemas concretos de saúde (continuidade) e o seguimento da pessoa com o
conjunto dos problemas de saúde que a afetaram ao longo da vida
(longitudinalidade). Os médicos especialistas focais podem oferecer
continuidade a alguns pacientes com problemas infrequentes e graves, mas não
podem oferecer longitudinalidade.
Os benefícios da
longitudinalidade são múltiplos, desde a diminuição da mortalidade dos
pacientes à diminuição dos custos do sistema de saúde[xxxiii].
Longitudinalidade e processo diagnóstico
Do ponto de vista
econômico, a longitudinalidade da atenção primária implica ganhos
significativos de eficiência, uma vez que parte substancial do tempo médico é
dedicada ao processo diagnóstico. Esse processo diagnóstico pode ser
conceitualizado como um modo de redução sequencial das hipóteses iniciais por
meio de um método hipotético-dedutivo, como expressa o Teorema de Bayes.
O médico coleta
informação (história clínica, exame físico ou de exames complementares) para
revisar as suspeitas iniciais e as probabilidades atribuídas a elas. Uma nova
informação diagnóstica serve para revisar probabilidades até que seja mais
vantajoso interromper o processo diagnóstico e começar a tratar ou não tratar
(inclusive “esperar e ver”).
A boa prática de um
médico de família, com uma longitudinalidade devidamente refletida na história
clínica, permite avaliar a um custo muito baixo as probabilidades anteriores
(condições de vida, por exemplo) aumentando a probabilidade pré-teste. O
trabalho de filtro aumenta a probabilidade das doenças no grupo de pacientes
encaminhados e, portanto, melhora e justifica os métodos mais agressivos dos
especialistas focais[xxxiv].
Suponhamos
teoricamente que os médicos de família filtram bem os pacientes e a
probabilidade de uma doença nos pacientes encaminhados aos especialistas focais
sobe de 1 para 10%. Se supormos que os especialistas focais aplicam testes com
95% de sensibilidade e 90% de especificidade, o valor preditivo positivo destes
testes passam de 8,7% para 51,3%[xxxv].
Em um exemplo real,
na Holanda, sobre a hemorragia retal, a prevalência do câncer de reto e de
sigmoide passa de 0,1% na população para 2% no consultório do médico de família
(por efeito do filtro pessoal e familiar) e para 36% no consultório do
especialista focal (por efeito do filtro do médico de família)[xxxvi]. Ou seja, a prevalência se
multiplicou por 20 quando o paciente decidiu consultar a seu médico de família,
e por 18 quando este decidiu encaminhar o paciente para o especialista focal.
Ao todo, a prevalência foi multiplicada por 360, de 1/1000 para 360/1000, o que
facilita o trabalho deste especialista focal e compensa os danos de suas técnicas
agressivas.
As quatros maletas do médico
Podemos considerar
que os médicos têm quatro maletas (valises ou bolsas):
1. A maleta com os recursos
materiais (os recursos próprios e alheios, e as normais que regulam seu uso,
cujo conteúdo define a “capacidade de resposta” dos profissionais),
2. A maleta com o conhecimento
geral (ciências e técnicas sobre o corpo humano, por exemplo, mas também os
conhecimentos sobre a economia, sociologia, antropologia, filosofia etc.),
3. A maleta do conhecimento
local, da cultura e das práticas e costumes dos pacientes, comunidades e
populações concretas,
4. A maleta do compromisso
consigo mesmo, com a profissão e com os pacientes, a comunidade e a sociedade.
Na atenção primária,
são chave os dois últimos, pois o médico de família deveria conhecer a fundo a
comunidade na qual trabalha e deveria comprometer-se por vida com seus
habitantes. É o que chamamos de longitudinalidade, que exige a presença durante
anos do mesmo médico, a oferta por este médico de serviços muito variados
adaptados às necessidades locais (de ginecologia a pequenas cirurgias), a
adscrição de uma população a este médico e o uso preferencial por esta
população do médico adscrito, exceto para emergências vitais.
É difícil encher as
duas últimas maletas em sistemas sanitários nos quais não há estabilidade do
médico de família no seu local de trabalho e onde não há população adscrita ao
mesmo.
Agente do paciente
A base do trabalho
médico e a “relação de agência”, o que exige conhecer a fundo o paciente, como
pessoa e “ser doente” em sua família, em seu trabalho e na comunidade.
O médico não trata o
paciente que ele mesmo gostaria de ser tratado, pois é agente do paciente.
Portanto, o bom médico oferece ao paciente as alternativas que levam em conta
os valores, crenças e expectativas do paciente, como se o médico fosse o
próprio paciente e tivesse o conhecimento e experiência do profissional. Ou
seja, no relacionamento de agência, o médico se “converte” em paciente e isso
exige conhecer bem o paciente, ou cumprir o velho ditado: “Não há enfermidades,
mas enfermos”.
Como agente do paciente
não cabe o que se chama de “medicina defensiva” já que em realidade é “medicina
ofensiva” uma vez que põe os interesses do médico a frente dos do próprio
paciente[xxxviii].
Como agente do
paciente, o médico de família facilita o uso racional dos recursos sanitários
de modo que os benefícios compensem os danos. Portanto, convém ser crítico com
os protocolos, algoritmos e guias clínicos, que em muitos casos carecem de
fundamento científico[xxxix],
como bem estuda Abel Novoa[xl].
Com exemplos
concretos, o bom médico de família:
- Evita o uso desnecessário da radiologia, por sua capacidade cancerígena, especialmente na infância e adolescência; por exemplo, na infância cinco tomografias equivalem à radiação da bomba atômica em Hiroshima[xli], e em mulheres que quando crianças e adolescentes foram acompanhadas por escoliose se multiplica por três a mortalidade por câncer de mama[xlii],
- Não recomenda check-ups, revisões rotineiras que não trazem benefício[xliii] e geral incontáveis e desnecessárias “cascatas” diagnósticas e terapêuticas[xliv] para esclarecer resultados inesperados ou “incidentalomas”,
- Examina com o mesmo interesse o cu dos ricos e a boca dos pobres, pois, lamentavelmente, há o mesmo atraso no diagnóstico precoce do câncer de cólon que no câncer oral (em ambos os cânceres se diagnostica precocemente 36% dos casos)[xlv]; o câncer oral é algo que afeta predominantemente a pobres, tabagista e alcoolistas,
- É cauteloso com as indicações sobre dietas e nutrientes, que geralmente carecem de valor científico, como ressalta John Ioannidis[xlvi], e pode-se resumir em “não meça o colesterol, seja feliz”[xlvii]; por exemplo, o consumo de ovos não se associa a maior mortalidade cardiovascular[xlviii],
- Evita recomendar rastreios de câncer pois carecem de impacto sobre a mortalidade[xlix],[l],
- Considera a periculosidade de todas as intervenções sanitárias, incluindo o “conselhos simples”, a medicalização do luto e outras muitas que se admitem como “simples e naturais” e por isso pouco perigosas (nesse sentido, como por exemplo, as recomendações de Alberto Ortiz e Vicente Ibañez para evitar a iatrogenia das intervenções psiquiátricas) [li],
- Tem uma visão global de respeito ante os pacientes obesos, geralmente vítimas da estrutura social e da pobreza, aos quais são inúteis e prejudiciais as pautas habituais de “dieta e controle do peso” [lii] pois a obesidade é um mais um problema político que médico,
- Não recomenda a “revisão ginecológica anual” já que carece de fundamento científico (a não ser no caso da citologia do colo do útero a cada três anos)[liii] e evita o encarniçamento médico com as mulheres, principalmente na gestação, parto e puerpério[liv],
- Leva em conta a sexualidade dos pacientes, aspecto chave em suas vidas que costuma-se ignorar mesmo no biológico dos efeitos adversos dos medicamentos (quando muito se fala de sexualidade em torno da prevenção das infecções de transmissão sexual e das gestações indesejadas)[lv] e
- Mantém-se atualizado para ser resolutivo tanto em problemas agudos como crônicos; por exemplo, conhece a “regra dos cinco dedos” para o seguimento dos pacientes com diabetes tipo 2[lvi].
O que pode fazer o médico de família em seu consultório e
em sua comunidade?
Diante do
adoecimento, do sofrimento e da morte, um médico só em seu consultório e na
comunidade pode se sentir pouco e ter a tentação de renunciar a possibilidade e
exercer de forma sensata seu trabalho. Entretanto, é imprescindível que esse
médico se entregue ao seu trabalho, aos seus pacientes e a sua comunidade. Há
algumas chaves que podem ajudar:
Manter a dignidade. O trabalho de Juan Carlos Macedo demonstrou a necessidade de manter “a ilusão entre os médicos de família que duvidam de que seu trabalho seja digno por ser miseravelmente remunerado e/ou é realizado longe de tudo que é considerado brilhante, em um povoado no meio do nada, ou na periferia mais tenebrosa de uma cidade, ou em uma cadeia sórdida e abandonada, ou num centro de saúde urbano e sem importância.
A
dignidade do médico com pessoa e profissional é a dignidade de seu trabalho, a
limpeza de seu coração, o compromisso com o sofrimento de seus pacientes, o uso
racional dos recursos a sua disposição, o raciocínio lógico e de sentido comum,
o acervo de conhecimentos científicos mantidos e incrementados no essencial, o
trabalho com cálida qualidade, a empatia com o marginal, a revolta frente à
injustiça, o conhecimento dos limites de sua ciência e prática e, sobretudo, a
resposta proporcional às necessidades do paciente, valorizando suas condições
pessoas, familiares, laborais, sociais e culturais”. [lvii]
Tal dignidade se simboliza
em mil formas como receber e se despedir dos pacientes em pé, na porta, ter na
mesa do consultório flores frescas, respeitar as práticas e costumes locais e
praticar uma Medicina Baseada na Cortesia[lviii].
Também é simbólico respeitar as consultas “sagradas”, às que o componente
emocional é máximo, como quando o paciente chora[lix],[lx].
Fomentar a solidariedade.
Solidariedade e a adesão e apoio a causas ou interesses alheios, especialmente
em situações difíceis; esta adesão e apoio é característica essencial da
espécie humana, e chave em sua evolução. A solidariedade é um valor que
estimamos como importante individual e socialmente.
O
sistema sanitário público de cobertura universal é a melhor expressão da
solidariedade social e seus fins são:
1. Evitar as falências por
adoecimento (muito frequentes onde não há tal sistema, como nos Estados
Unidades, por exemplo) e
2. Prestar serviços sanitários
segundo a necessidade (equidade, tanto horizontal “o mesmo para os que têm a
mesma necessidade, tato vertical “mais a quem precisa mais”).
Assim, o sistema sanitário de cobertura universal responde a questões de convivência, ética, justiça e valores; ou seja, a questões de solidariedade. Portanto, não é uma questão preponderantemente monetária ou sanitária, mas uma questão política[lxi].
Assim, o sistema sanitário de cobertura universal responde a questões de convivência, ética, justiça e valores; ou seja, a questões de solidariedade. Portanto, não é uma questão preponderantemente monetária ou sanitária, mas uma questão política[lxi].
Reduzir a Lei de Cuidados Inversos.
A Lei de Cuidados Inversos, enunciada por Julian Tudor Hart, se cumpre
inexoravelmente. Esta Lei diz que se proporcionam cuidados sanitários em relação
inversa aos que são necessários (e isto é mais intenso quanto mais orientado ao
mercado é o sistema sanitário)[lxii].
Por exemplo, apesar de contar com um sistema sanitário público de cobertura
universal, as mortes por causa infecciosa atingem três vezes mais a classe
baixa na Espanha.
A
partir do consultório se pode fazer muito para reduzir o rigor da Lei de
Cuidados Inversos. Por exemplo, dedicando mais tempo aos que mais precisam
(pacientes com surdez e outras deficiências, imigrantes e outras pessoas que
não conhecem o idioma local, os “insignificantes” de Gustavo Gutiérrez, os
pacientes que consomem drogas por via parenteral, os idosos etc.). Também se
faz muito registrando dados (ocupação, escolaridade) na história clínica que
permitam valorar o impacto da classe social na saúde e na resposta do sistema
sanitário. E claro também, aprendendo a língua local e a dos imigrantes, seja
quéchua em Cotacachi (Equador) ou urdú em El Raval (Barcelona); o conhecimento
fluente das línguas locais é condição sine
qua non para trabalhar na atenção primária. Mesmo assim, deve-se sair do
consultório e da comunidade, por exemplo para prestar cuidados domiciliares,
especialmente aos que estão reclusos em seus lares, que costumam ser os mais
desfavorecidos, e para cooperar com o sistema de apoio social e os dispositivos
do bairro/comunidade etc.
Como
escreveram Anna García-Altés e Vicente Ortún, precisa-se mais de “programas
para a criança pobre” do que “programas para a criança saudável”[lxiii]
pois às puericulturas comparecem justamente as crianças que menos necessitam.
Em
geral, a opção política e social depende da sensibilidade e da formação dos
médicos como indivíduos políticos, mas se pode atuar como cidadão, selecionando
e favorecendo as alternativas políticas que trabalham ativamente com o fim de
melhorar as condições de vida, e como cientista, gerando conhecimento
científico que evidencie o impacto da classe social na saúde, para facilitar a
adoção de medidas corretivas da inequidade[lxiv].
Praticar a escuta.
Não há melhor instrumento diagnóstico e terapêutico que a escuta respeitosa.
Mas já disse Nanni Moretti no seu filme autobiográfico “Caro Diário”: “Os
médicos sabem falar, mas não sabem escutar”. De fato, após iniciar a consulta,
os médicos costumam interromper os pacientes aos 16 segundos para “dirigir” a
entrevista (e converte-la em um verdadeiro interrogatório)[lxv].
Quando se permite que os pacientes falem livremente, sem interrupções, a
maioria se esgota em dois minutos[lxvi].
O
estilo sincopado imposto pelos médicos é bem retratado neste diálogo entre um
investigador e um paciente que acabou de sair do psiquiatra[lxvii]:
¾ Pesquisador: “O que você
conversou com o médico?”
¾ Entrevistado: “Eu não
conversei com o médico”
¾ Pesquisador: “An?”
¾ Entrevistado: “O médico fez perguntas, eu respondi. Nós não conversamos”
¾ Entrevistado: “O médico fez perguntas, eu respondi. Nós não conversamos”
Esta realidade é exemplo do estilo autoritário predominante no qual o paciente só tem direito a contestar o interrogatório sem impiedoso do médico[lxviii].
Permitir ser conhecido. Os médicos de família deveriam “cheirar como suas ovelhas”; ou seja, incorporar-se na comunidade em que atendem e formar parte dela na forma de um recurso sanitário essencial. Mas também deveriam ser conhecidos por seus pacientes e pela comunidade em sua filosofia de vida e de prática clínica e em seu histórico vital. Por exemplo, para tornar conhecido que não recebe os representantes das indústrias farmacêuticas, nem aceita seus presentes e convites, para deixar claro que não discrimina por nenhuma razão nem opção (sexual, política etc.), para garantir o uso de tranquilizantes e analgésicos (inclusive morfina) para que seja “sã” a morte no domicílio do paciente que queira morrer em casa.
Os pacientes têm direito de saber algo sobre o médico que os atende. Não basta só saber que tem os estudos e a certificação, além do seu nome. São importantes algumas questões filosóficas e práticas, como seu pensamento sobre a dignidade do morrer, ou ante a influência dos laboratórios farmacêuticos[lxix].
Não estar só. O médico de família pode se sentir muito solitário e pequeno diante da imensidão da “ciência” e das influências comerciais e políticas que tergiversam a boa medicina.
Se tem vontade e constância, este médico será um “perdedor de longa distância”, mas não está só neste caminhar da dignidade e da solidariedade[lxx]. Somos muitos os que tentamos a cada dia que as coisas melhorem, e conseguimos, mesmo que seja em pequena escala. É importante englobar-se nestes grupos locais, nacionais e internacionais, pois já disse Margaret Mead: “Nunca duvide de que um pequeno grupo de cidadãos possa mudar o mundo. Verdadeiramente, são os únicos que já conseguiram[lxxi]”.
Há múltiplos grupos e pessoas às quais seguir e apoiar, que ajudam a manter a chama da ilusão e da dignidade no trabalho e na vida. Por exemplo, “NoGracias”, “MédicosSinMarca”, “Revolución Delirante”, “Choosing Wisely”, “Seminarios de Innovación en Atención Primaria (SIAP)” etc.
Permitir ser conhecido. Os médicos de família deveriam “cheirar como suas ovelhas”; ou seja, incorporar-se na comunidade em que atendem e formar parte dela na forma de um recurso sanitário essencial. Mas também deveriam ser conhecidos por seus pacientes e pela comunidade em sua filosofia de vida e de prática clínica e em seu histórico vital. Por exemplo, para tornar conhecido que não recebe os representantes das indústrias farmacêuticas, nem aceita seus presentes e convites, para deixar claro que não discrimina por nenhuma razão nem opção (sexual, política etc.), para garantir o uso de tranquilizantes e analgésicos (inclusive morfina) para que seja “sã” a morte no domicílio do paciente que queira morrer em casa.
Os pacientes têm direito de saber algo sobre o médico que os atende. Não basta só saber que tem os estudos e a certificação, além do seu nome. São importantes algumas questões filosóficas e práticas, como seu pensamento sobre a dignidade do morrer, ou ante a influência dos laboratórios farmacêuticos[lxix].
Não estar só. O médico de família pode se sentir muito solitário e pequeno diante da imensidão da “ciência” e das influências comerciais e políticas que tergiversam a boa medicina.
Se tem vontade e constância, este médico será um “perdedor de longa distância”, mas não está só neste caminhar da dignidade e da solidariedade[lxx]. Somos muitos os que tentamos a cada dia que as coisas melhorem, e conseguimos, mesmo que seja em pequena escala. É importante englobar-se nestes grupos locais, nacionais e internacionais, pois já disse Margaret Mead: “Nunca duvide de que um pequeno grupo de cidadãos possa mudar o mundo. Verdadeiramente, são os únicos que já conseguiram[lxxi]”.
Há múltiplos grupos e pessoas às quais seguir e apoiar, que ajudam a manter a chama da ilusão e da dignidade no trabalho e na vida. Por exemplo, “NoGracias”, “MédicosSinMarca”, “Revolución Delirante”, “Choosing Wisely”, “Seminarios de Innovación en Atención Primaria (SIAP)” etc.
Sintetizando
Nós médicos temos dois objetivos: 1) evitar-tratar-paliar o sofrimento e 2) ajudar os humanos a morrer bem. Quando os alcançamos podemos fazer tão bem ao ponto do paciente desejar beijar nossas mãos ao comprovar os “milagres laicos cotidianos” que realizamos. Lamentavelmente, nos consideramos cientistas e tendemos a deixar de ser sanadores capazes de “milagres laicos cotidianos”. Vamos de sanadores a curandeiros e terminamos como magos com promessas impossíveis, como a vida eterna na Terra, e assim acabamos como comerciantes com interesses predominantes em fazer negócios[lxxii].
Fingimos ignorar que, quando um médico trabalha como médico, pode parecer um deus. Fingimos ignorar que os “milagres laicos cotidianos” são fundamentais para os pacientes e seus familiares, para a comunidade e para a sociedade. Também são importantes para o profissionalismo, para a entrega a sagrada tarefa que é o trabalho do médico[lxxiii].
Sejamos médicos então. Trabalhemos como tais; somos necessários
Nota
Este texto sintetiza
a palestra com os residentes de Medicina de Família e Comunidade da Universidad
Central del Ecuador em Quinto, no dia 14 de agosto de 2019. Apoiaram a
atividade a Sociedad Ecuatoriana de Medicina Familiar e a Universidad Central
del Ecuador.
Se houver erros, eles
são os dos signatários que verificaram cuidadosamente cada compromisso e dados.
Você pode notar a excessiva auto-nomeação, justificada por ser uma palestra
baseada em nosso próprio trabalho.
Estamos abertos a
receber comentários, críticas e sugestões dos leitores, além de perguntas e
pedidos de bibliografia detalhada sobre tudo o que é discutido.
Mercedes Perés-Fernandez
é graduada em Medicina, está aposentada da prática clínica como médica
generalista no Sistema Nacional de Salud de España (1974-2010), é especialista
em Cínica Médica e é coordenadora do Comitê de Ética da Red Española de
Atención Primaria (desde 1990 até o presente)
Juan Gérvas é doutor
em Medicina (MD, PhD), está aposentado da prática clínica como médico
generalista no Sistema Nacional de Salud de España (1974-2010), é Profesor
Visitante de Salud Internacional, Escuela Nacional de Sanidad, Madri, Espanha
(desde 2004 até o presente), é membro do Comitê de Vacinas da Sociedad Española
de Salud Pública (SESPAS) (desde 2012 até o presente), é membro do grupo de
especialistas internacionais independentes para assessorar gratuitamente a
jornalistas sobre questões sanitárias e de saúde Health News Review (desde 2017
até o presente) e foi Professor Visitante no Deparment of Health Policy and
Management da School of Public Health,
Johns Hopkins University, Baltimore, USA (1991-2003).
Após a discussão
desfrutamos de uma pambamesa,
tradição ancestral que permite compartilhar alimentos, organizada por uma minga entre os R1 e R3 de Medicina de
Família.
Ney Loor, estudante
de Ciências da Saúde, e do grupo Batallón JJ, animou a noite para que
pudéssemos dançar. A todos eles, nosso agradecimento.
Dedicamos este texto
aos pós-graduandos da Pós Graduação em Medicina Familiar e Comunitária da
Universidad Central del Ecuador e aos quais a dirigem, assim como ao Decano da
Facultad de Ciencias Médicas, Dr. Ramiro Estrella, que inaugurou a discussão.
Professores da
Pós-Graduação:
Dra. Glenda
Guayasamin, Coodenadora da Pós-Graduação UCE. Dr. Juan Carlos Cazar, Diretor da
Escuela de Medicina. Dr. José Eras, Dra. Sandra Aguirre, Dr. Xavier Maldonado e
Dra. Sofía Cañadas, Preceptores Comunitarios e Docentes.
Pós-graduandos:
ALVARADO TUSO ANA BEATRIZ, ALDAS BAYAS PATRICIO XAVIER, ARGOTI ENRIQUEZ DIEGO
ROBERTO, ASIMBAYA QUINGA JORGE, BAPTISTA BOSCAN KAROL PATRICIA, BARRETO TAMAY
OLGA ELIZABETH, CAGUANA VERGARA JENNY LORENA, CASA TOAQUIZA BLANCA MARIBEL,
CUEVA ZURITA NILDA GABRIELA, DUFFEY CASTILLO DORIS ELIANA, ESCOBAR BAUTISTA
ABRAHAN RODRIGO, FLORES FERNANDEZ ANDREA GEOVANNA, GAIBOR BRAGANZA MARÍA BELEN,
GALAN LOPEZ CAROLA DE LOURDES, GARCIA REZABALA DAVID, GUERRA ESCOBAR JENNY
GISSELA, GUERRERO SOLIS GABRIELA, LUNA DELGADO MARIEN JANINA, MACAS MACHADO
CARLA NATALIA, MOREIRA MERA SCHUBERTH, MUÑOZ MOREIRA GALO EDISON, OCHOA TORRES
PAOLA FERNANDA, ONOFRE RUIZ PAUL FERNANDO, PACA AJITIMBAY MARIA CONCHITA, PEREZ
ORTIZ JADIRA ALEXANDRA. PUENTE GALEAS LUCÍA FABIOLA, QUINTERO KLINGER FLORINDA,
QUIROZ GILER MARGARITA SALOME, RODRIGUEZ MOYA MARIA GABRIELA, RODRIGUEZ
ULCUANGO LAURA ALEXANDRA, SALAZAR MEJIA VALERIA, SANDOVAL VILLEGAS PAULINA
JEANNETH, SILVA SALAZAR GREGORIO, VINICIO TAPIA DIAZ ALEXIS ROBERTO, TERAN
GARRIDO ANA CECILIA, TOAPANTA VALDIVIEZO KARINA, TORRES MIRANDA NORMA SUSANA,
TUTILLO MATABAY ANGELICA, VALENCIA JIMÉNEZ GABRIELA, VARGAS REYES ANA CRISTINA,
VELIN FLORES MARIA CRISTINA, VINCES GUAMAN CARLOS ANDRES, ZAMBRANO ALVAREZ
JEANNETH ANDREA e ZURITA ALMEIDA MARIA DOLORES.
R-1 e
R-3 que estiveram a cargo da pambamesa:
XAVIER GUAMAN, MICHELLA PAZ, MARIANA PASTO,
JUAN CACUANGO, JHONNY CALAHORRANO, MERCEDES SOLORZANO, GABRIELA ALBAN,
ELIZABETH BRAVO, PILAR GUILLEN, LORENA LAHUASI, SORAYA VITERI, JOHANNA
SIGUENCIA, GREASE MUÑOZ, DAISY AQUINO, SULAY AQUINO, PAOLA HEREDIA, CARMEN
CALERO, VERONICA ALLAN, MAGALY MORETA, PAOLA PEREZ, EDISON RUANO, CARLOS
HUILCATANDO, VERONICA RIVADENEIRA, ISAMEL VELEZ, LUCY RIVERA, MIRIAM RIVERA,
DANNI VILLADAREZ, MARLENE YANQUI, VERONICA ALBAN, ANDREA SUAREZ, MAURA MOLINA,
ALEJANDRO VELASTEGUI, YOLANDA CACHAGO, CHRISTIAN ESPIN, SANTIAGO MARIN, HARRY
PARRALES, EVELYN SARAUZ, TATIANA SUQUILLO, MERCEDES POZO, PAULINA MARTINEZ,
PAOLA YACELGA, JAQUELINE MENDEZ, GLADYS CEPEDA, ANDREA VARELA, ISMAEL ÑACATO,
NADIA PACHACAMA, GERANIA MARTINEZ, WENDY ACOSTA, CLARAINES CORTEZ GABRIELA
ACOSTA TATIANA PADILLA KARLA CORREA MARCO PEREZ, XAVIER MONROY, MARIA ELENA
QUILLUPANGUI, CECIBEL PAREDES, RUTH MOLINA, ERIKA MORALES, ANDREA HIDALGO,
KARLA GONZALEZ, CARLOS RODRIGUEZ, DIEGO QUITO, GRACIELA TOALOMBO, NEREIDA
SUSANA CABEZAS COBA, CUICHAN BAUTISTA, CARLOS LUIS SILVA BEMOS, WILFRIDO
ALADINO, ALARCON TATIANA , AMAGUAYA SANDRA,
ARANDA PATY, GUALAVISI
VERONICA, JAYA CARLOS, GLENDA CARDENAS, XIMENA VELA, KATY HERRERA,
DIEGO VELASCO, JUAN CARLOS GARCIA, ANA MARIA MENDOZA, MARIA CALVOPIÑA, TAMARA
CALDERON, ROBERTO MERA, MARIA TOAPANTA, MARGARITA ANDRANGO, MAYRA RAMIREZ,
MAGALI SILVA, DAYSI TIERRA, WILLIAM VELASCO, ANDREA VARGAS, KATIANA AGUILAR,
VERONICA CAZAR, PAOLA CORNEJO, ELIANA FALCON, ELIZABETH GAIBOR, ESTEFANIA
PALACIOS, VERONICA GUADALUPE, CAROLINA GARCES, LISBETH DIAZ, SILVANA FARINANGO,
STEFFANNY CORTEZ, ANABEL SANCHEZ e GONZALO PEREZ
[1] Nota do tradutor: no texto original está “El especialista focal
“poco abarca y aprieta mucho” mientras el especialista “abarca mucho y aprieta
poco”, em alusão à expressão espanhola “el que mucho abarca poco aprieta” cuja
tradução literal seria algo como “quem muito cobre/abrange pouco
espreme/aperta”, mas que tem seu paralelo em português na expressão “quem tudo
quer, nada tem” ou “quem tudo quer, tudo perde”.
REFERÊNCIAS
[i] ¿Cómo define la OMS la salud? https://www.who.int/es/about/who-we-are/frequently-asked-questions
[ii] Smith
R. Trying to redefine health. https://blogs.bmj.com/bmj/2009/12/14/richard-smith-trying-to-redefine-health/
[iii] OMS.
Del dicho al hecho: el reto de la salud para todos 2019. https://www.who.int/es/news-room/events/detail/2019/05/19/default-calendar/walk-the-talk-the-health-for-all-challenge-2019
[iv] OPS.
Informe anual del Director. Avance hacia la salud universal basada en la
atención primaria de salud. https://www.paho.org/annual-report-of-the-director-2018/es/parte-2-avance-hacia-salud-universal-basada-atencion-primaria-salud/
[v] Heath
I. In defence of a National Sickness Service. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1764107/
[vi] Starfield
B, Gérvas J. Prevención de la población al paciente y viceversa. ¿Es la
prevención una función de la atención primaria? http://equipocesca.org/prevencion-de-la-poblacion-al-paciente-y-viceversa-es-la-prevencion-una-funcion-de-la-atencion-primaria/
[vii] Gérvas
J et al. Is clinical prevention better than cure? http://equipocesca.org/is-clinical-prevention-better-than-cure/
[viii] Heath
I. Prevention in the medical encounter. https://docs.google.com/document/d/1F9DLqvzbYoelni-IH7sbfx4Wcqmd8UQgS5xiHxsS3Pg/edit?pli=1
[ix] Gérvas.
Prevención: 10 principios en prevención. 10 (1). https://www.actasanitaria.com/prevencion-10-principios-en-prevencion-10-1/
[x] Tesser
C et al. Applying the precautionary principle to breast cancer screening:
implications to public health. http://cadernos.ensp.fiocruz.br/csp/public_site/arquivo/1678-4464-csp-35-07-e00048319.pdf
[xi] Gérvas.
Prevención: 10 principios en prevención 10. http://equipocesca.org/prevencion-10-principios-en-prevencion-10/
[xii] Gérvas
J, Pérez-Fernández M. Sano y salvo. Y libre de intervenciones médicas
innecesarias. Barcelona: Libros El Lince; 2013. http://www.linceediciones.com/es/libro/sano-y-salvo/
[xiv] Illich
I. La obsesión por la salud perfecta, un factor patógeno predominante. http://www.taichichuaneskola.com/pdf/la_obsesion_por_la_salud_perfecta.pdf
[xv] Heath
I. Role of fear in overdiagnosis and overtreatment. https://www.bmj.com/content/349/bmj.g6123
[xvi] Skrabanek
P. La muerte de la medicina con rostro humano. https://es.sott.net/article/42338-La-muerte-de-la-medicina-con-rostro-humano-la-salud-como-negocio
[xvii] Miguel
F. Factores de riesgo: una nada inocente ambigüedad en el corazón de la
medicina actual. https://www.elsevier.es/es-revista-atencion-primaria-27-articulo-factores-riesgo-una-nada-inocente-14974
[xviii] Novoa
A. Esbozos de complejidad (4): Diez conclusiones contrafácticas y una reflexión
desesperada sobre factores de riesgo. http://www.nogracias.eu/2019/02/14/repite-conmigo-los-factores-de-riesgo-no-causan-enfermedades-truco-para-evitar-deslices-por-abel-novoa/
[xix] Starfield
B et al. The concept of prevention: a good idea gone astray? http://equipocesca.org/the-concept-of-prevention-a-good-idea-gone-astray/
[xx] Gérvas
J. Si tener en cuenta la espiritualidad del paciente es medicina alternativa,
ésta debería ser central en la medicina científica. https://www.actasanitaria.com/si-tener-en-cuenta-la-espiritualidad-del-paciente-es-medicina-alternativa-esta-deberia-ser-central-en-la-medicina-cientifica/
[xxi] Márquez
S, Meneu R. La medicalización de la vida y sus protagonistas. http://revistadefilosofia.com/4Lamedicalizacion.pdf
[xxiii] Illich
I. Némesis médica. La expropiación de la salud. https://www.ivanillich.org.mx/Nemesis.pdf
[xxiv] Gérvas
J, Pérez-Fernández M. La expropiación de la salud. http://www.linceediciones.com/es/libro/la-expropiacion-la-salud/
[xxv] Shewmon
D. The dead donor rule: lessons from linguistics? https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15497227
[xxvi] Youngner
SJ. Talking about death is not the same as communicating about death. https://jme.bmj.com/content/41/4/303
[xxvii] Gérvas
J. Contraseñas del buen médico. https://www.actasanitaria.com/contrasenas-del-buen-medico/
[xxviii] Berenson
RA, Kaye DR. Grading a
physician's value — The misapplication of performance measurement. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1312287
[xxix] Berenson
RA, Kaye DR. Grading a
physician's value — The misapplication of performance measurement. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1312287
[xxx] Gérvas
J, Pérez-Fernández M. Aventuras y desventuras de los navegantes solitarios en
el Mar de la Incertidumbre. https://www.elsevier.es/es-revista-atencion-primaria-27-articulo-aventuras-desventuras-los-navegantes-solitarios-13071916
[xxxi] Franks
P et al. Gatekeeping revisited. Protecting patients from overtreatment. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM199208063270613
[xxxii] Gérvas
J et al. Longitudinalidad, prestigio, buena reputación (social y profesional) y
medicina general/de familia. Aspectos clínicos y de salud pública. Informe
SESPAS 2012. http://www.gacetasanitaria.org/es-longitudinalidad-prestigio-buena-reputacion-social-articulo-S0213911111003360
[xxxiii] FoCAP.
Los beneficios de la longitudinalidad y de la continuidad. https://focap.files.wordpress.com/2019/01/los-beneficios-de-la-longitudinalidad.pdf
[xxxiv] Gérvas
J, Pérez-Fernández M. El fundamento científico de la función de filtro del
médico general. http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbepid/v8n2/13.pdf
[xxxv] Ortún
V, Gérvas J. Fundamentos y eficiencia de la atención médica primaria. http://equipocesca.org/fundamentos-y-eficiencia-de-la-atencion-medica-primaria/
[xxxvi] Fijten
GH et al. Occurrence and clinical significance of overt blood loss per rectum
in the general population and in medical practice. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1238932/
[xxxvii] Gérvas
J. El cabás y el profesional sanitario. Cuatro maletines que definen el
trabajo. https://www.elsevier.es/es-revista-gaceta-medica-bilbao-316-articulo-el-cabas-el-profesional-sanitario--S0304485812000418
[xxxviii] Gérvas J. Medicina
ofensiva (no defensiva). https://www.actasanitaria.com/medicina-ofensiva-defensiva/
[xxxix] Suleng K. Alerta,
pregunta incómoda: ¿está fracasando la medicina? https://elpais.com/elpais/2016/08/31/buenavida/1472648769_377736.html
[xl] Novoa
A. En busca de la relevancia en el conocimiento médico: de la pirámide de la
evidencia al pluralismo evidencial. http://www.nogracias.org/2019/08/16/en-busca-de-la-relevancia-en-el-conocimiento-medico-de-la-piramide-de-la-evidencia-al-pluralismo-evidencial-por-abel-novoa/
[xli] Birnbaum
S. CT scanning: too much of a good thing. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1867909/
[xlii] Doody
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mortality after diagnostic radiography: findings from the U.S. Scoliosis Cohort
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[xliii] Krogsbøll
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health checks for reducing illness and mortality. https://www.cochrane.org/CD009009/EPOC_general-health-checks-reducing-illness-and-mortality
[xliv] Pérez-Fernández
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[xlvi] Ioannidis J. The Challenge of Reforming Nutritional Epidemiologic Research. https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2698337
[xlvii] Gérvas J. No os
midáis el colesterol, sed felices. http://www.nogracias.eu/2014/08/07/os-midais-el-colesterol-sed-felices/
[xlviii] Rong
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dose-response meta-analysis of prospective cohort studies. https://www.bmj.com/content/346/bmj.e8539
[xlix] Saquib
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meta-analyses and randomized trials. https://academic.oup.com/ije/article/44/1/264/654148
[l] Prasad
V et al. Why cancer screening has never been shown to “save lives”—and what we
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[li] Ortiz
A, Ibañez V. Iatrogenia y prevención cuaternaria en salud mental.
http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1135-57272011000600002
[lii] Fildes
A et al. Probability of an Obese Person Attaining Normal BodyWeight: Cohort
Study Using Electronic Health Records. https://ajph.aphapublications.org/doi/pdf/10.2105/AJPH.2015.302773
[liii] Gérvas
J. «Mi ginecólogo». Pero, ¿por qué tener un ginecólogo, si la revisión anual es
inútil? https://www.actasanitaria.com/mi-ginecologo-pero-por-que-tener-un-ginecologo-si-la-revision-anual-es-inutil/
[liv] Gérvas
J, Pérez-Fernández M. El encarnizamiento médico con las mujeres. 50
intervenciones sanitarias excesivas y cómo evitarlas. http://www.linceediciones.com/es/libro/encarnizamiento-medico-las-mujeres/
[lv] Gérvas
J. Promoción de la salud. La sexual como ejemplo. https://www.actasanitaria.com/promocion-de-la-salud-la-sexual-como-ejemplo/
[lvi] Bravo
R. Una sencilla manera de comunicar los objetivos del tratamiento a pacientes
con diabetes (y a algunos médicos y enfermeras). https://rafabravo.blog/2014/05/09/una-sencilla-manera-de-comunicar-los-objetivos-del-tratamiento-al-pacientes-con-diabetes-y-a-algunos-medicos-y-enfermeras/
[lvii] Gérvas
J. La dignidad del trabajo clínico existe allí donde ejerce un médico cercano,
científico y humano. http://equipocesca.org/la-dignidad-del-trabajo-clinico-existe-alli-donde-ejerce-un-medico-cercano-cientifico-y-humano/
[lix] Gérvas
J et al. Consultas sagradas:
serenidad en el apresuramiento. https://www.elsevier.es/es-revista-atencion-primaria-27-articulo-consultas-sagradas-serenidad-el-apresuramiento-S0212656708000097
[lx] Gérvas
J et al. Crying patients in general/family practice: incidence, reasons for
encounter and health problems. http://equipocesca.org/crying-patients-in-generalfamily-practice-incidence-reasons-for-encounter-and-health-problems/
[lxiii] García-Altés
A, Ortún V. Funcionamiento del ascensor social en España y posibles mejoras. Informe SESPAS 2014 http://gacetasanitaria.org/es-funcionamiento-del-ascensor-social-espana-articulo-S0213911114000934
[lxiv] Gérvas
J. Oportunidades clínicas para compensar el impacto de las diferencias sociales
en salud. http://equipocesca.org/oportunidades-clinicas-para-compensar-el-impacto-de-las-diferencias-sociales-en-salud/
[lxv] Ruiz-Moral R et al.
¿Bienvenido y hasta luego u hola y
adiós?: conductas comunicativas de los médicos residentes en los momentos
iniciales y finales de las consultas. https://www.elsevier.es/es-revista-atencion-primaria-27-articulo-bienvenido-hasta-luego-u-hola-13082485
[lxvi] Langewitz
W et al. Spontaneous talking time at start of consultation in outpatient
clinic: cohort study. https://www.bmj.com/content/325/7366/682
[lxvii] Galasiński
D. Language and psychiatry. http://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(18)30040-3/fulltext
[lxviii] Gérvas
J. Los médicos saben hablar, pero no escuchar. https://www.actasanitaria.com/los-medicos-saben-hablar-pero-no-escuchar/
[lxix] Gérvas J. Tríptico. http://equipocesca.org/informacion-al-paciente-sobre-su-medico/
[lxx] Gérvas
J. Perdedores de largo recorrido. https://www.actasanitaria.com/perdedores-de-largo-recorrido/
[lxxi] González
M. Las 30 frases de Margaret Mead más influyentes. https://laguiafemenina.com/frases-y-reflexiones/frases-margaret-mead
[lxxii] Gérvas
J. Enfermedad: ciencia y ficción. http://equipocesca.org/enfermedad-ciencia-y-ficcion/
[lxxiii] Gérvas
J. Si un médico ejerce de médico puede parecer un dios. https://www.actasanitaria.com/si-un-medico-ejerce-de-medico-puede-parecer-un-dios/
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